Imagine um maestro capaz de reger uma orquestra que toca 24 horas por dia, sem pausas para descanso, sem perder o ritmo e melhorando a cada apresentação. Agora, troque os músicos por processos de marketing e vendas, e esse maestro por agentes de Inteligência Artificial. É assim que empresas de diversos tamanhos estão afinando seus resultados: colocando a IA para coordenar, automatizar e escalar suas operações.
Esse foi o tema de mais um Talk promovido pela Inbix, que contou com a presença de Raphael Lacerda, fundador da Agência Mercado Binário e criador da plataforma ElevaWeb, e Fernando Silva, CEO da Loc.fit, convidado especial que trouxe uma visão estratégica sobre o uso da tecnologia. Juntos, eles exploraram como agentes de IA estão transformando a forma como atraímos clientes, fechamos negócios e mantemos um relacionamento ativo com leads.
O que são agentes de IA?
Para começar, é importante diferenciar o que é um agente de IA de ferramentas de IA comuns como o ChatGPT. Enquanto ferramentas como essa respondem perguntas, um agente de IA é programado para tomar ações, integrado a canais e ferramentas da empresa, operando de forma autônoma para executar tarefas — como responder clientes no WhatsApp, qualificar leads, preencher CRM ou até resolver problemas internos.
Um agente é construído sobre um modelo base de IA, mas com recursos adicionais. Ele pode se conectar a ferramentas, usar memória para manter contexto e até tomar decisões com base em dados. Por isso, é mais correto pensar nele como um “colaborador digital” do que como um simples chatbot.
A “porta de entrada” para agentes de IA mais comum hoje é via chatbots inteligentes, especialmente no WhatsApp, mas eles também podem atuar no Telegram, Instagram, sites ou softwares internos.
IA vai além da substituição
Raphael destacou que a IA está evoluindo a um ritmo acelerado e que até 2030 veremos capacidades que hoje parecem impensáveis. Mas o maior desafio não será a tecnologia, e sim a preparação das pessoas para acompanhá-la.
Fernando reforçou que o desafio atual não é apenas tecnológico, mas cultural. É preciso adotar um pensamento tecnológico para resolver problemas e eliminar burocracias que travam o crescimento.
Esse contexto abre espaço para entender o impacto real dos agentes de IA no marketing e nas vendas. Muitas vezes, o medo gira em torno da substituição de humanos. Em vez de ver a tecnologia como ameaça, é preciso enxergá-la como amplificadora da capacidade humana. Sim, algumas funções serão substituídas, mas quem souber operar essas ferramentas terá seu valor multiplicado no mercado.
Raphael contou sobre uma ferramenta desenvolvida por sua empresa, que integra marketing e vendas de forma automática: leads vindos de anúncios são atendidos imediatamente, 24 horas por dia, evitando que esfriem. Um agente de follow-up cuida de manter o interesse vivo, enquanto outro qualifica automaticamente cada lead, identificando os mais promissores com base nas conversas do WhatsApp. Todos esses dados são devolvidos para as campanhas, otimizando segmentações e anúncios. É como se o ciclo completo — do clique ao fechamento — fosse acompanhado de perto, sem intervenção humana na maior parte do processo.
“Essa é uma automatização que as empresas podem ter que, basicamente, tira bastante parte dos seus serviços e aumenta os resultados drasticamente.”
Fernando comentou o caso do iFood, que usa agentes desde 2019 para resolver problemas operacionais. Imagine milhões de pedidos por dia, concentrados em horários de pico. Quando ocorre um erro, por exemplo, um cliente recebe o prato errado, o agente solicita fotos, compara automaticamente com o produto correto e, se confirmar a divergência, processa o estorno em segundos. Uma operação que, com atendimento humano, seria inviável nessa escala.
Níveis de maturidade no uso de IA
Foi apresentado um mapa de maturidade que ajuda empresas a entenderem seu estágio no uso da IA. Vai desde o nível 1, quando se usa apenas ferramentas básicas, até o nível 5, em que um ecossistema completo integra marketing, vendas e operações.
No Brasil, a maioria ainda está nos níveis iniciais, mas isso deve mudar rapidamente à medida que os concorrentes comecem a mostrar resultados concretos. Quem estiver à frente nas implementações, ganhará vantagem competitiva.
Implementar agentes de IA, no entanto, não significa fazer uma revolução da noite para o dia. Raphael e Fernando defenderam uma abordagem gradual. O primeiro passo é mapear oportunidades: onde estão as tarefas repetitivas ou gargalos? Depois, escolher as ferramentas ou parceiros certos.

E, ao invés de transformar tudo de uma vez, começar pequeno, rodando um projeto piloto com metas claras. Nesse processo, é fundamental treinar a IA com dados reais da empresa — histórico de atendimentos, perguntas frequentes, informações sobre produtos e até o tom de voz usado com clientes. Quanto mais contexto, mais precisas serão as respostas.
Não caia em mitos
Outro ponto importante trazido no Talk é não cair em mitos. A ideia de que implementar IA é caro e complexo já não se sustenta, há soluções acessíveis e até gratuitas para começar.
O medo de que ela vá “roubar empregos” também não reflete a realidade: a IA tira o peso das tarefas repetitivas e libera as pessoas para o estratégico. Fernando propôs até um novo termo: Inteligência Amplificada, reforçando que a IA serve para potencializar humanos, não substituí-los por completo.
E, quanto à curva de aprendizado, ela existe, mas é menor do que parece. Com treinamento básico, qualquer equipe pode incorporar agentes no dia a dia.
Isso não significa, porém, que tudo seja simples. Muitos projetos falham por falta de objetivo claro, impaciência com os resultados ou por deixar o sistema no piloto automático. Raphael destacou que, mesmo autônomos, os agentes precisam de supervisão no início, para ajustes e melhorias. Há também um cuidado ético necessário: dados de clientes devem ser usados de forma transparente e responsável.
Conclusão
A mensagem que ficou é que não é preciso ter um ecossistema perfeito de IA para gerar impacto. Muitas vezes, basta implementar um processo bem estruturado para conquistar uma vantagem competitiva. Pequenas e médias empresas também podem aproveitar esse momento — e quem começar agora estará em posição de liderança quando a adoção se tornar massiva.
Assim como um maestro que transforma notas soltas em música, os agentes de IA organizam dados, processos e interações para criar um fluxo harmonioso de vendas e marketing. E, como em qualquer boa orquestra, o segredo está em saber conduzir, porque a tecnologia, por si só, não faz a mágica acontecer. Quem assumir a batalha agora vai ditar o ritmo do mercado nos próximos anos.

